Quebrar a rotina a dois - Casal Feliz II
Quebrar a rotina a dois - Casal Feliz
A "pimenta" necessária para as nossas relações está em nós
"Apimentar" uma relação
Tudo se passa dentro de nós e a rotina não foge à regra. Por isso a rotina a dois é, antes de mais, quebrar dentro de cada UM o que nos castra, oprime e ilude de segurança. Uma relação é um ser vivo. Como tal,para que se desenvolva precisa de alimento. alimento que produz movimento (e falo de movimento interior, claro!). Podemos "apimentar" a relação com um jantar romântico, uma nova lingerie ou umas férias nas Maldivas, mas se este "apimentar" não estiver a acontecer verdadeiramente dentro de nós, o "movimento" exterior não passará de algo frustrante, pontual e absolutamente ilusório. Ao longo do meu caminho, tive o prazer de observar e, até, de fazer parte do imenso número de casais que se "distraem" a mobilar a casa, que depois de mobilada ainda precisa de obras, de cortinados, de novos electrodomésticos e que quando isto está tudo tratado, precisam de um novo carro com mais espaço para um novo filho, precisam de mais almoçaradas e jantaradas em casa, tudo com o objectivo de se distraírem da inevitabilidade que é olharem para dentro. Até que um dia (porque existe sempre um dia), são finalmente confrontados com a relação consigo próprios e com o outro. E, neste momento, num acto simples e banal, chamam a este confronto rotina e decidem separar-se.
Tudo porque a verdade teima em espreitar e não adianta querer intimidade e movimento numa relação construída de fora para dentro.
Tudo porque a verdade teima em espreitar e não adianta querer intimidade e movimento numa relação construída de fora para dentro.
Será que a rotina paralisa as mudanças?
O medo da mudança e da perda de controlo empurra-nos 8entre outras coisas), para a "maldição" que é darmos as nossas relações como garantidas. Este padrão coloca-nos, mais cedo ou mais tarde, perante a ambivalência do mastigar insalubre da repetição, que satura, amarga e destrói, mas ilude de segurança, e o estímulo da novidade, que a dinâmica e o movimento da vida impõem, mas que parece fugir literalmente do nosso controlo. Quando damos as nossas relações como garantidas, vivemos os múltiplos tentáculos desta escolha em pequenas coisas, que vão desgastando e mostrando aos poucos que o medo de sair da "vidinha" contraria totalmente a natureza humana, logo, a natureza do amor. Mesmo assim, insistimos, pois queremos acreditar que com a rotina as mudanças paralisam e não precisam de acontecer. Isto em parte parece tranquilizar-nos, apesar de na nossa essência sabermos que é tão somente mais uma descarada mentira que contamos a nós próprios.
A rotina no caminho da individuação
Ao aceitarmos fazer um caminho de individuação e de consciência é difícil a rotina e a monotonia terem uma palavra a dizer. A consciência e a aceitação da mutabilidade que é a vida, esta certeza de que cada momento é irrepetível, remete-nos para a certeza de que a "pimenta" necessária para as nossas relações está em nós, que ao estarmos alinhados com a vida e connosco nos impossibilitamos de viver qualquer repetição e, tal como Lamartine, aprendemos a olhar para o mesmo mar e a ver nele sempre coisas diferentes.
Veja artigo anterior: Quebrar a rotina a dois - Casal Feliz I
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